sexta-feira, 28 de abril de 2023

Top 20: jogos que joguei em 2022 (parte 2)

Como diz o título essa postagem é uma continuação da postagem anterior e é necessário lê-la primeiro para aproveitá-la melhor. Continuando... 

Como em 2021 eu me adentrei em Persona, um passo lógico a se tomar seria adentrar na franquia que originou Persona, Shin Megami Tensei. Ainda não cheguei a jogar jogos o bastante dessa franquia, mas ainda sim me considero um fã, tanto que há 2 jogos dela nessa parte, com um deles sendo este aqui.

10: Shin Megami Tensei - Synchronicity Prologue (2017) 

Synchronicity Prologue é um spin-off da principal franquia de Shin Megami Tensei e é um tanto curioso. Ele se passa durante os eventos de Strange Journey e sua existência foi puramente feita como forma de promover o lançamento do remake de Strange Journey. Com essas palavra até parece que há uma receita para um desastre, com eventos interligados a um jogo da série principal e feito apenas como um anúncio de um remake desse dito jogo, mas não é necessário jogar Strange Journey para aproveitá-lo (a história aqui nem importa) e ele estar nessa lista mostra que é competente. Ao invés de ser um RPG de Turno, esse spin-off opta por ser um Metroidvania. A jogabilidade aqui é bem dinâmica, com comandos responsivos, 2 personagens jogáveis e até algumas influências de Bullet Hells (majoritariamente de Ikaruga) nas lutas de chefes. O seu maior ponto forte é ser conciso. O jogo dura umas 2 ou 3 horas, e para alguns, essa duração pode ser decepcionante, mas não chega a ser problema para mim por conta de certos aspectos. O mapa está do tamanho certo, não é grande demais e é perfeitamente compacto, com áreas que tiram um bom proveito das mecânicas, apesar da progressão ser um tanto linear para um Metroidvania (mas isso não significa que ele é desprovido de segredos). Ele também apresenta belos visuais 2D e uma boa trilha sonora. Mesmo sendo um tanto curto e feito apenas como propaganda para o Strange Journey Redux, SMT Synchronicity Prologue consegue ser bem feito e divertido. 

Na parte 1 desse top, apresentei Metamorphosis of M Dolly, que foi o jogo que me fez adentrar nos Walking Sims. Depois de jogá-lo, fui jogar outros games feitos pelo mesmo criador (David Su), e vi que os seus games se especializam em ser canções interativas. Dos que eu joguei, esse foi o que eu mais gostei, porque achei que foi algo bem único.

9: Evergreen Blues (2020) 

 
O que exatamente é Evergreen Blues? Como diz nas páginas do itch.io e da Steam, "o jogo é uma construção de música interativa baseada em escolha sobre as relações entre audiências, autores e os personagens e mundos que eles criam", e irei tentar explicar melhor o que isso quer dizer. O jogo é um conjunto de 6 músicas diferentes e em cada uma delas, você decide qual será a letra de cada. O tema sobre a relação dos artistas com sua audiência está presente em todas elas, mas é contado de uma forma abstrata e minimalista, o que pode não agradar alguns e tachar esse jogo de pretensioso se não estiver em sintonia com ele. O que me fez gostar tanto dele, e tê-lo achado único, é a sua ludonarrativa. Mesmo a sua página esclarecendo sobre o que a sua mensagem se trata, não quer dizer que não esteja aberta para interpretação, e o jogador irá interpretar a mensagem, não só pelo o que está sendo dito, mas também pela capacidade de escolher a letra da música, que é uma forma de dar sentido ao que está apresentado. Além disso as músicas são boas, com a cantora tendo uma voz bonita e uma instrumentação combinando com sua beleza. Pode não ser a coisa mais extraordinária já feita, mas os 11 minutos de Evergreen Blues me encantaram com o seu uso criativo de ludonarrativa. 

Quando estava fazendo a lista "Meus jogos favoritos de cada ano que vivi", decidi jogar esse aqui para acrescentá-lo como o jogo de 2019, pois a minha escolha passada para esse ano (Grimm's Hollow) não era um jogo com o qual estivesse apegado para merecer o título de favorito do ano, e valeu a pena
8: A Short Hike (2019) 
A Short Hike é um jogo de exploração com elementos de plataforma, com o intuito de ser simples e agradável. A premissa é que a nossa personagem (Claire) quer escalar o topo de uma montanha para pegar sinal e atender uma ligação no telefone. Se parece chato, não se preocupe, pois esse objetivo principal pouco importa e nem de longe é o que o torna especial. Por ser um jogo de exploração, é isso o que importa aqui. A ilha na qual o jogo se passa é um ambiente agradável, com moradores amigáveis e um bocadinho de coisas pra fazer, e devido ao tamanho compacto do local, andar por aí e fazer atividades secundárias acaba não sendo um saco, já que não tem tanto do excesso que esses jogos de mundo mais aberto apresentam e fez cada momento valer a pena. A jogabilidade também é satisfatória, e o Level-Design focado em verticalidade complementa as habilidades de voo e escalada da Claire. O enredo não é super elaborado, mas me conectei com a sua mensagem sobre não se preocupar com o futuro e aproveitar o presente, já que eu passei por esse tipo de problema na minha vida (se eu tivesse jogado aos 14 anos, eu teria me emocionado mais, por conta desse problema ter sido maior nessa época). Além disso, o estilo visual com 3D pixelado é charmoso e a trilha sonora é agradável. Mesmo com sua curta duração, não sendo a melhor coisa e não ter jogado na época que eu mais precisava, A Short Hike acabou me conquistando e o aceito pelo que ele é. 

Como mencionado na parte 1, decidi correr atrás de obras sobre a pandemia, seja sobre o próprio evento ou com semelhanças na situação. Das que foram sobre o evento em si que tive contato, não senti que eram bem o que procurava. And the Band Begins To Play era um poema fofinho e Inside do Bo Burnham não chegou a me conectar emocionalmente, por mais que fossem bons. Foi quando eu joguei esse game, que finalmente achei o que queria.
7: All Things Equal I Would Prefer It If We Were Safe & Lonely Instead of Together & Afraid But I Cannot Deny That Is Hard; or; A Solitary Spacecraft. (2020)
Sim, o nome do jogo é longo desse jeito. Dá pra dizer que ele se parece com o And the Band Begins to Play, por ser sobre a pandemia e ter a mesma Engine (Bitsy), mas as semelhanças param por aí. Assim como todos os jogos feitos na Bitsy, a jogabilidade é bem mínima, se sustentando por outros aspectos, como a força de sua narrativa. A história aqui é autobiográfica do seu próprio criador (Dante Douglas), sendo a sua experiência pessoal na quarentena. O que me agradou nele não foi só sua história sobre a quarentena, mas a sua aplicação de jogabilidade minimalista. É comum que qualquer jogo agrade aos jogadores, justamente por ser prazeroso de jogar, mas e se um jogo for bom pelo motivo contrário? Sacrificar uma boa jogabilidade em prol de uma mensagem é uma decisão um tanto arriscada, pois pode alienar os jogadores e não há garantia de que vão tolerar ou ligar para o propósito, e fazer esse tipo de coisa requer um equilíbrio um tanto delicado. Esse é um daqueles jogos que é especial por não ser bom de jogar. Como o Bitsy é uma Engine limitada, permitindo que a jogabilidade seja só andar e ler texto, não é algo que irá agradar todo mundo e entendo quem achar esse tipo de jogo chato, mas essas limitações foram bem utilizadas na sua ludonarrativa. O jogo inteiro se passa num quarto, você só interage com objetos que mostram caixas de texto que falam sobre os momentos do criador durante a quarentena e sair pela porta só te leva para o próximo dia. Os dias continuam nesse mísero quarto, sem poder sair, imaginando coisas melhores para fazer, além de se trancar nesse espaço e tendo que aturar esse sofrimento, estando num ciclo de monotonia. Além da jogabilidade entediante, a história ser uma autobiografia de alguém na pandemia é bem fácil de simpatizar, já que as pessoas do nosso tempo já passaram pela dificuldade que foram os momentos de quarentena. O que me faltava naquelas outras obras sobre a pandemia mencionadas, era esse clima melancólico e a pessoalidade de uma biografia que me faltava. A Solitary Spacecraft é uma valiosa cápsula do tempo e uma lição artística sobre games não precisarem ser bons de jogar para ter uma experiência impactante. PS: Caso entenda inglês e queira jogar, aqui está o link dele para jogá-lo no navegador (também funciona no celular): https://videodante.itch.io/solitaryspacecraft 

Deu pra perceber que eu tenho um certo apreço por jogos de luta na 1° parte desta lista, ainda mais se você lembra que o meu jogo favorito de todos é Super Smash Bros Brawl. Smash Bros não é um jogo de luta tradicional, fazendo parte de um subgênero dos jogos de luta chamado Platform Fighter. Entretanto, dos que são mais tradicionais, esse acabou sendo o meu favorito.
6: Akatsuki Blitzkampf (2007) 
Conheci esse jogo quando me deparei com um vídeo no Youtube com o título "Fighting Game Simplicity Done Right" (simplicidade em jogo de luta feito da maneira certa, em tradução livre), e desde que assisti, acabei me interessando. A sua jogabilidade fez jus ao título do vídeo que me apresentou ao jogo, conseguindo ser simples o bastante para um iniciante mergulhar de cabeça, mas apresentando profundidade o suficiente para um veterano do gênero aproveitar, além do combate ser mais pé no chão e não ser focado em movimentação frenética e mecânicas obtusas, como em outros jogos de luta independentes dessa época. Ele também apresenta uma quantidade decente de modos alternativos para um jogo desse calibre, como um tabuleiro com desafios diversos, lutas de 4 jogadores, um editor de cores e até um modo Online (que não cheguei a jogar, porque veio de um jogo japonês de 2007, em tempos aonde Wi-Fi não tinha se popularizado tanto quanto hoje). Não é a quantidade mais extensa de conteúdo já existente, mas tem jogo de luta hoje em dia que nem é tão completo quanto esse daqui. Outra coisa que chama a atenção é a sua estética. Mesmo se passando num mundo fictício, é tudo obviamente inspirado pela 2° guerra mundial (inclusive com os vilões sendo uma clara alegoria ao nazismo), tendo uma direção um pouco mais sombria e intensa em relação a outros do gênero, mas ainda assim tendo personagens com designs distintos e memoráveis. Akatsuki Blitzkampf é um belo exemplo de um jogo conseguir ser acessível sem sacrificar o que o torna atraente para os mais experientes, e consegue fazer tudo o que faz com competência.

Conhecer algo do nada pode muito bem despertar a curiosidade e te fazer experimentar coisas que você não fazia ideia que gostaria. Foi isso o que aconteceu comigo nesse jogo.
5: Serial Experiments Lain (1998) 
Serial Experiments Lain é um jogo de PS1 bem curioso. É um jogo que se foca na sua história, sendo que ela é apresentada de forma desorganizada, com o jogador tendo que juntar os pedaços para desvendá-la. A narrativa aborda tópicos muito importantes sobre saúde mental, que continuam relevantes até hoje e não se segura em mostrar as duras e pesadas realidades de conviver com transtornos e como as pessoas ao redor os tratam. É provável que alguns de vocês já conheçam Serial Experiments Lain por conta de sua versão em Anime, e se é necessário assistir essa versão antes de jogar, digo que não. Mesmo complementando a obra original, a história apresentada não se passa no mesmo universo e pode ser aproveitada de boa sem precisar ter assistido o Anime. A minha descrição apresentada é decepcionantemente curta se comparada com as dos outros jogos da lista, mas decidi deixar por aí mesmo, pois tenho planos futuros de cobri-lo mais a fundo em uma review aqui no Blog. Enquanto ela não estiver pronta, vou deixar a posição do jogo nesse Top falar por si mesma. 

Não é segredo pra ninguém que adoro Kirby e que é a minha franquia de games favorita, e com o novo lançamento principal dela nesse ano, não podia ficar de fora. 
4: Kirby and the Forgotten Land (2022) 
Kirby and the Forgotten Land é o mais novo game principal da franquia e o 1° a ser 3D. Para uma 1° vez no 3D (sem contar os Spin-offs), a adaptação foi incrivelmente boa. A jogabilidade funciona muito bem aqui, com controles responsivos e adaptando muito bem certas partes dos jogos 2D, como fazer o voo não ser mais infinito para complementar os ambientes mais espaçosos e menos verticais, e deixando o moveset das habilidades mais parecido com Amazing Mirror e Squeak Squad do que com o Super Star, para deixá-los mais funcionais na jogabilidade 3D. O Level-Design também é surpreendentemente bom. Mesmo com as fases sendo lineares, elas contém boas oportunidades para exploração e devido a verticalidade reduzida, as seções de plataforma conseguem ser tão recompensadoras quanto, já que não são tão trivializadas pela habilidade de voo. O Mouthful Mode podia ser uma mecânica forçada pra enfiar variedade feita de qualquer jeito, mas não, ela acabou sendo uma mecânica divertida e que dava uma boa variedade. Os visuais e as músicas também são boas, e nisso não tenho tanto a comentar. Deu pra perceber que amei bastante esse jogo, mas sei que ele não é perfeito. Teve algumas coisinhas ali e aqui na gameplay que podiam melhorar um pouco e admito que sinto falta de coisas dos jogos 2D que não tem nesse aí, mas não diria que me atrapalhou substancialmente no meu divertimento. Kirby and the Forgotten Land é um dos jogos da série que mais me encantou, acertando em cheio nos seus planos e me enchendo de otimismo para os futuros jogos 3D dela. 

Você já gostou de algo muito fora de suas preferências pessoais? Uma daquelas coisas que tem uma ou vários tipos de coisas que não são muito do seu agrado, e que para sua surpresa, você gostou? Se eu falasse para o meu eu do passado que gostaria disso, dificilmente me convenceria, mas cá estou aqui, botando esse jogo nessa posição.
3: Echo (2021) 
Echo é uma Visual Novel de drama e terror psicológico, e uma das minhas maiores surpresas entre o que gostei. Sei que algumas pessoas meio-informadas (a parte do meio está no sentido literal) podem estar um tanto apreensivas ao bater o olho nisso aqui, e claro que não tenho como disfarçar esse fato. Echo é um produto Furry (uma subcultura sobre interesse em animais antropomórficos, demonstrada de várias maneiras) e também é um pouco mais voltado para quem for gay, mas isso não é um fator determinante na sua qualidade artística ou aproveitamento da obra, pois oferece muito para desfrutar, mesmo se você não for parte desses demográficos. Por ser Visual Novel, é claro que a história vai ser foco ao invés de gameplay, e a posição disso aqui no Top já dedura a minha opinião sobre ela. A história é sobre um grupo de amigos de infância revisitando a sua antiga cidade natal Echo, para aproveitar a oportunidade de reviver os velhos tempos, já que o protagonista da história (Chase) está fazendo um trabalho para a faculdade sobre o caso de histeria em massa ocorrido no local, e por um dos gêneros principais dessa história ser terror, é claro que o negócio vai dar ruim. No geral, eu não sou um cara muito de terror, não por dar medo, mas porque costumo sentir mais apatia nos supostos momentos de tensão e medo do que a maioria das obras do gênero esperam. Apesar disso, a narrativa aqui conseguiu perfurar essa defesa minha, me deixando genuinamente desconfortável, com sustos muito bem construídos e apresentando descrições que elevam bem a tensão, tudo isso sem recorrer a jumpscares baratos. A efetividade disso é ainda mais elevada pelo quão bem são apresentados os personagens e o local da narrativa. Os personagens são muito bem escritos e desenvolvidos, cheios de nuance em sua caracterização, desde as falhas até as suas ações, e mesmo a vasta maioria sendo pessoas que não gostaria de chegar perto, me apeguei a eles e suas histórias. Já é de se esperar que Echo seja pesado, até arriscaria dizer que é uma das obras mais pesadas que já tive contato, incluindo tópicos como drogas, sexo, abuso, estupro entre outros, felizmente os tópicos abordados foram lidados com maturidade e não os mostra como choque vazio. O ritmo é a cola que mantém cada aspecto da experiência firme, e sem isso ela não me prenderia tanto. Echo não é terror o tempo todo, visto que ele também dosa momentos de Slice of Life com os personagens fazendo coisas mundanas de boa, mesmo que isso não os impeça de ter a sensação de que algo de errado possa acontecer. Echo também é ótimo em ser sutil, com as suas explicações não sendo oferecidas de mãos beijadas, com descrições crípticas o bastante, mas compreensíveis o suficiente para não serem confusas, respeitando bem a inteligência do leitor e não sendo condescendente. Posso não ter muita experiência com o meio das VNs, mas sinto que a maioria me parece ter problemas em dosar o ritmo dos textos, sendo lacônicos demais para algo que exija mais texto ou sendo prolixos demais para muito pouco ou até pro que já é bastante. Echo tem por volta de 600 mil palavras e milagrosamente se salvou de ser uma história prolixa, pois senti que cada palavra importava e que a quantia foi o suficiente para contar a sua história. Isso não significa que a narrativa anda a mil por hora, pois a progressão dela é lenta, mas não chega a ser um lento tedioso. Por ser VN, a probabilidade de ser do tipo que tenha escolhas que alteram a narrativa e rotas atreladas a personagens é alta, e se você achou que esse seria o caso, acertou. Nem todas as escolhas importam, mas o jogo te fará questionar se está tomando os rumos certos, e nem é difícil pegar o "final bom" de cada rota, pelo quão sutilmente telegrafados são os rumos tomados pelas escolhas. Sobre as rotas de personagens, todas elas foram bem aplicadas, dando muitas camadas para os personagens principais ou secundários e a cidade de Echo, além de todas serem bem escritas e não sendo feitas puramente para romance (tem romance, mas não é o ponto principal) e não ser necessário fazer mil malabarismos para entrar em uma, é só escolher e pronto. Alguns preconceituosos irão achar que um jogo desses possa ser um pornô, e nem nego que há cenas de sexo aí, mas além de não serem muitas, elas não mostram nada visualmente explícito e se mantêm no texto, ainda mais que essas cenas não são retratadas como material para punheta, mostrando como a bagunça de emoções que realmente é e não sendo só eróticas (devo parabenizar Echo por ser uma das poucas obras que retratam sexo de forma honesta). De pontos negativos, menciono certas inconsistências na arte e a eficácia de escolher qualquer rota poder confundir o jogador, visto que certas rotas foram pensadas para o jogador pegar mais para o final e pegá-las no início pode gerar confusão. Mesmo não sendo culpa do jogo, ele só não fica mais à frente, justamente por ser tão fora da minha curva. Eu ter gostado tanto dele chega a ser um milagre. Echo pode não ter sido feito exatamente para mim, mas me cativou tanto com seus personagens complexos, mistérios instigantes, e ter me proporcionado emoções que eu não achava que sentiria.

Lembram que na décima posição desse Top havia mencionado que havia outro SMT na lista? A hora é agora.
2: Shin Megami Tensei - Devil Survivor (2009) 
Além de ser a minha porta de entrada pra MegaTen, Devil Survivor foi o meu início na busca de obras sobre a pandemia. Decidi começar por esse aqui, por que além de ser um RPG Tático, ele foi o que mais me interessou na premissa. "3 jovens estavam aproveitando o seu cotidiano em Tokyo, até eles descobrirem a existência de demônios e que eles podem usá-los como se fossem Pokémons através de dispositivos, e não foram só eles que descobriram, pois o governo descobre que há uma infestação de demônios na cidade, e decide impor uma quarentena e acobertar a situação. Então, os nossos heróis devem sobreviver à quarentena e achar uma solução para esse problema". Só de ler já deu para perceber que a situação da premissa é estranhamente parecida com a nossa pandemia, e esse foi o jogo que impulsionou o meu interesse em procurar obras que se assemelhassem a nossa pandemia ou que sejam sobre ela. Em questão de história, gostei bastante. O principal tema da narrativa é sobre os perigos de quando uma sociedade entra em colapso, e a situação da quarentena demonstra bem isso, com o psicológico da população se deteriorando e levando as pessoas aos seus piores comportamentos. Todas essas questões foram muito bem trabalhadas na narrativa e a forma que os eventos progridem de mal a pior é bem crível. Os personagens também não ficam atrás, com o elenco sendo consistentemente bem escrito, tendo boas histórias e certas nuances nas suas ações e personalidades, com nenhum deles sendo caricato demais (os personagens menos bons foram só OK, e os únicos que deixaram a desejar para mim foram os agentes do governo, por achá-los meio sem sal). Eu também gostei das rotas alternativas, e como os finais delas não tem uma solução 100% correta para o problema em questão, tendo boas doses de ambiguidade moral e com o roteiro não puxando saco para nenhuma delas. Por ser MegaTen, é claro que há várias coisas de mitologias diferentes, como demônios, deuses e muito mais, e isso é um aspecto da franquia que eu adoro, ainda mais nesse jogo, pela forma que ele aborda questões sobre o cristianismo, como a torre de babel e a natureza de deus. Em gameplay, o jogo também se sobressai, com mecânicas de batalha bem dinâmicas, boas doses de customização e uma variedade de missões. Outro ponto que me fez jogá-lo primeiro foi por ter um sistema de gerenciamento de tempo parecido com Persona,  em que você deve usar o seu tempo livre para conhecer os personagens, fazer missões e evitar a morte permanente de certos personagens, num período de 7 dias. Estava apreensivo antes de jogá-lo, pois SMT é uma franquia conhecida por ter uma dificuldade elevada (também um ponto que me deixou confuso por qual começar), mas quando fui jogar, não tive tantos problemas e peguei o jeito. Sim, o jogo é difícil, mas saber o que está fazendo ajuda muito, achei que foi um difícil moderado, mas isso vai de cada um, pois dificuldade é subjetiva. Também cheguei a jogar a versão de 3DS (Devil Survivor Overcklocked) no mesmo ano, e ela é tão boa quanto, adicionando novos demônios, melhorias de gameplay e balanceamento, melhorando os visuais e som, dublagem e um novo epílogo chamado de 8° dia, e jogá-la durante o meu estágio foi uma boa experiência. É evidente que adorei esse jogo, ele até virou um dos meus interesses especiais e se tornou parte da minha essência, mas também sinto que eu o superestimo. Como já tinha mencionado os agentes do governo serem sem sal em uns parênteses atrás, irei partir para outros problemas, como o jogo exigir um pouco mais de grinding do que outros MegaTens, a trilha sonora ser repetitiva por mais boa que seja, os designs de personagens serem um tanto qualquer coisa (especialmente as personagens femininas), ter poucas oportunidades para obter membros para o grupo até o final, alguns métodos meio obtusos de salvar personagens, alguns chefes chatos e apesar das rotas alternativas, as minhas jogatinas ficam cada vez mais parecidas com as outras a ponto de eu entrar em piloto automático (talvez esse último possa ser problema meu e não do jogo, sei lá). Por mais que ame esse jogo, não estaria surpreso se alguém se decepcionasse pelo tanto que  falo bem dele. Independente disso, SMT - Devil Survivor definitivamente se tornou um dos jogos da minha vida. Coisa que não deu para encaixar no texto: Eu também joguei o Devil Survivor 2, achei ele superior em gameplay, mas inferior em história se comparado ao 1°.

Antes de mostrar o primeiro lugar, vejam as 
Menções Honrosas:  
Magical Drop Pocket (1999): Gosto tanto de Magical Drop III, que até a versão mais limitada dele para o Neo Geo Pocket Color chega a ser divertida. É um port competente.
Touhou 7 - Perfect Chery Blossom (2003): Um Bullet Hell bem divertido que poderia estar no Top 20, se não fosse pelas minhas suspeitas de ter baixado uma versão Demo dele por engano.
Super Princess Peach (2005): Um jogo de plataforma simples e agradável, com uma mecânica de emoções interessante, e é bom ver a Princesa Peach protagonizando algo ao invés de ser sequestrada pela milésima vez. 
Melty Blood Act Cadenza Ver. B (2006): Achei melhor do que a versão Actress Again, pois tenho a sensação dos comandos serem mais responsivos, tem alguns modos exclusivos e não tem aquele sistema de luas obtuso. Quanto ao jogo, gosto do quão frenético ele é, apesar de não gostar de certos sistemas dele. 
The King of Fighters 2002 - Unlimited Match (2009): Possivelmente o melhor KOF, mas ele só fica nas menções honrosas por eu não ser tão chegado assim nessa franquia. 
Space Funeral (2010): Um RPG de Turnos surreal e engraçado que satiriza as convenções do gênero e há certas camadas interpretativas. Gostei dele, mas preciso de tempo para elaborar melhor a minha opinião. 
Kirby Triple Deluxe (2014): Um Kirby de 3DS que é bem divertido e com boas mecânicas e seleção de habilidades, mas ele peca em certas partes do Level-Design, tem uma trilha sonora fraca, e joguei o Forgotten Land antes. 
We Know the Devil (2015): Uma VN queer sucinta que é até legal. 
Catbird (2017): Um joguinho de plataforma para celular que é simples, divertido e não é Pay-to-Win
One Night, Hot Springs (2018) e Last Day of Spring (2019): Dois joguinhos que falam da experiência de ser trans no Japão que conseguem ser educativos, e ter profundidade para não te tratar feito uma criança mimada. 
Get sword, kill dragon save princess (2019): Um jogo de Bitsy mais focado em Puzzles do que narrativa, sendo divertido e com descontruções engraçadinhas de histórias de fantasia. 
Before Your Eyes (2021): Um jogo bem bonitinho sobre as nossas relações com memórias. 
Totsugeki 64 (2022): Uma Hack Rom de Super Mario 64 com memes de Guilty Gear. É satisfatório como o "Totsugeki" da May consegue burlar limitações do jogo de origem. 
Poinpy (2022): Esse é o jogo de celular que eu queria e não sabia, tendo uma jogabilidade desafiadora e intuitiva e nenhuma das tendências abusivas que assolam jogos desse tipo. 
The Bombs Have Been Dropped, I am Listening to Steely Dan and Wearing Cheap Sunglasses (2022): Um poema absurdista extremamente engraçado e com críticas ao capitalismo.
Aro (2022), The Adventures of Qunju Spark (2018) e Overthought (2017-2019?): Três jogos de Bitsy com o mesmo tema, que irei esclarecer melhor com a 1° posição desse Top

Nestes últimos meses, adquiri um gosto por jogos feitos por uma mulher com a alcunha de npckc, a maioria dos jogos dela são sobre as dificuldades de ser LGBT, abordando-as de uma forma educativa sem ser super didática e sem perder profundidade ao abordar esses problemas. O seu trabalho mais conhecido é a trilogia Springs, cujos 2 primeiros jogos estão nas menções honrosas. O 3° da trilogia foi o que mais me conectei emocionalmente por motivos que estou prestes a esclarecer.
1: Spring Leaves No Flowers (2019) 
Como o 3° jogo da trilogia, afirmo que Spring Leaves No Flowers se destaca em comparação aos seus antecessores. Os dois primeiros eram sobre as dificuldades de ser trans no Japão, com o 1° sendo sobre a perspectiva de Haru, uma mulher trans passando dificuldades em estar numa Onsen (casas de banho e hospedarias com fontes termais) por conta de seu gênero, e o 2° sobre Erika, sua amiga tentando procurar um spa que a aceite para oferecer lazer e relaxamento, na perspectiva de uma pessoa cis fazendo o melhor para simpatizar com a sua amiga trans. Os primeiros são sobre pessoas que já se descobriram e sabem quem são, o 3° é sobre alguém se descobrindo e que está confusa sobre quem é. Este último é protagonizado pela Manami. Nos anteriores, ela era uma amiga solidária, mas meio ingênua, e ao ver o seu ponto de vista, percebe-se que ela é tão cheia de ansiedade quanto a Haru, devido a sua vontade de evitar conflitos a impedir de falar o que está pensando. Isso é expressado pelo sistema de escolhas riscadas. A trilogia Springs, em questão de gameplay, é sempre voltada pra uma das capacidades mais básicas de Visual Novels, escolher diálogos que alteram a narrativa, e nesse 3°, há opções de diálogos que estão riscadas, como forma de representar o que a Manami tem medo de falar, e ao escolhê-las, ela acaba não falando e o jogador é forçado a pegar outras opções, tornando esse o mais difícil dos 3 quando se trata de pegar o final verdadeiro, visto que em certos pontos é necessário escolher as opções riscadas para avançar. Esse aqui humaniza muito bem a Manami e é um dos pontos que me fez gostá-lo, mas o motivo dele ter sido uma experiência pessoal para mim é outro. Não chega a ser segredo para alguns, pois tenho uma quantidade considerável de conhecidos que sabem disso, mas deve haver algumas pessoas que ainda não sabem disso, então: Eu sou arromântico e assexual (ou aroace caso refira a alguém que é os dois, como eu). O que isso significa? ser arromântico é sentir pouca a nenhuma atração romântica e assexual é sentir pouca a nenhuma atração sexual. Não é tão simples quanto arromântico não namora e assexual não transa, já que esse tipo de orientação está num espectro, também podendo ser Demi, que é sentir atração romântica ou sexual só depois de formar um vínculo emocional, Grey, que é sentir atração romântica ou sexual com pouca frequência ou em circunstâncias específicas ETC (não cobri o espectro tão extensivamente, mas estes foram os exemplos mais comuns que pude dar). Essa explicação minha é um pretexto para dizer que a história é sobre a Manami se descobrindo como aroace (tecnicamente, isso é um spoiler, mas é impossível explicar o quanto isso foi pessoal para mim sem mencionar aquilo). Na maioria das histórias sobre se assumir LGBT, quando os personagens se descobrem, eles geralmente se mostram 100% confortáveis com a sua identidade de uma forma caricata, mas aqui, mostra que o processo para se descobrir é confuso e até apavorante, e que mesmo depois de se descobrir, ainda há espaço para dúvidas. Admito que mesmo depois de ter me assumido como aroace, ainda tenho dúvidas sobre a minha sexualidade, e que também me enxergo na forma que a Manami tenta lidar com a sua descoberta, tentando justificar as inconsistências em seus sentimentos e tendo dificuldade em se abrir para outras pessoas por medo de que te julguem. Tudo isso foi lidado com elegância e a forma npckc de ser, o que me deixa bem feliz. Spring Leaves No Flowers é o meu 1° lugar nessa lista, não por ser uma das melhores coisas já feitas ou por ter mudado a minha vida, mas por ter me dado alegria de existir. 

Quais jogos você jogou em 2022? Quais foram os seus favoritos do ano? Já jogou alguns dos jogos deste Top 20? Tem interesse em jogar alguns deles? Gostou da postagem? Comente e compartilhe nas redes sociais, e que 2023 tenha felicidade!

5 comentários:

  1. Uau Ivan...qta coisa complexa q vc percebe nesses jogos...me impressiona ver como vc consegue associar coisas q ñ estão evidentes para um jogador comum...só sendo muito aficcionado mesmo para analisar tantos pontos...não consigo ir além de perceber gráficos e os botoes de atorar e mover....muito show....

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  2. Ler sobre esses jogos me fez ter certo interrese para jogar

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  3. Olha Ivan, adoro quando você fala de games e de você ao mesmo tempo, numa espécie de "autogamebiografia". Quanto às estéticas, fiquei impactada com a beleza do Echo.

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  4. Oi Ivan, primeiro parabéns pelo texto. As descrições dos jogos foram muito úteis para ter uma ideia do enredo e do estilo dos jogos. O Vitor (gamer daqui de casa) está muito interessado em ler o blog, passei o link para ele conhecer esses jogos.

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